Básico
CURSO BÁSICO DE HOMEOPATIA PARA GRADUANDOS E GRADUADOS EM MEDICINA, MEDICINA VETERINÁRIA E ODONTOLOGIA.
Público alvo: Estudantes de medicina, veterinária ou odontologia. Graduados em medicina, veterinária ou odontologia.
1- A proposta do Curso Básico de Homeopatia e universo alvo.
O curso teórico-prático básico de Homeopatia objetiva instruir graduandos e graduados de Medicina, de Medicina Veterinária, de Farmácia e de Odontologia sobre os fundamentos hahnemannianos da Homeopatia. Para atingir seus propósitos o curso adotará por eixo de seu desenvolvimento o estudo do Princípio de Semelhança e sua relação com o regime de vida.
2- Introdução ao Estudo da Homeopatia: O Princípio de Semelhança e sua relação com o regime de vida.
A Homeopatia consiste em um sistema de tratamento dos conflitos de saúde através de assimilação dos mesmos. Aqui se toma saúde por grandeza que representa a vida desobstaculizada, considerando-se vida como a manifestação orgânica e fluídica de uma ordenação inteligível denominada Phýsis.
A organização dos corpos se faz através de uma propriedade physiológica denominada Dynamis, pela qual a Phýsis faz o que convém, sem mestre que a ensine, definindo que o aprendizado se realiza pelo fazer contingente das coisas. O saber dinâmico é, pois, um saber prático, que se atualiza em permanente aperfeiçoamento. Podemos dizer que a Homeopatia consiste em saber prático, essencialmente experimental, racionalizável por um estatuto natural, cujas leis normatizam a medição e remediação dos dilemas de saúde. Assim, os fundamentos da prática homeopática se reduzem a princípios naturais da fenomenologia.
O princípio fundamental da arte e ciência homeopática de medir e de mediar a organicidade dinâmica é o Princípio de Semelhança Similia Similibus Curentur. Ele enuncia que a relação com a Natureza orgânica deve se estabelecer por semelhança. Ele é o fulcro das demais referências reguladoras da prática médica de semelhança e inclui as práticas que opõem contradição aos sintomas.
A compreensão do Princípio de Semelhança pode se aproximar da seguinte noção: aquilo que desenvolve uma representação de doença artificial cura a doença natural semelhante.
Homeopatia é a arte e ciência de tratar o orgânico discurso natural por assimilação. É um sistema que, através de comunicação, inclui o medidor como remediador da tensão natural. Esse é o fundamento do método homeopático puro desenvolvido por Hahnemann (1755-1843) para, como convém, se auxiliar na desobstaculização e na promoção da vida.
O médico Samuel Hahnemann, através de atenta observação da Natureza, dos sistemas e resultados terapêuticos da medicina de sua época e de escrupulosa experimentação na saúde de substâncias medicinais ultradiluídas, adaptou o vitalismo hipocrático para a ciência. Ele o fez ao racionalizar a terapêutica com medicamentos corpóreos em base a princípios (ou leis) naturais. Seu trabalho atualizou a tradição hipocrática de ministério médico segundo a Natureza, evoluiu o pensamento paracelsista das signaturas e da racionalização do empirismo, e culminou na sistematização do vitalismo hahnemanniano: a Homeopatia. No vitalismo hahnemanniano distingue-se uma redução dos conceitos de Dynamis (de tradição hipocrática) e de Força Vital (de tradição empedocleana) para o de Energia Vital.
No nascimento da filosofia e da medicina técnico-científica a Phýsis foi entendida como a inteligibilidade que se manifesta parida e se reconduz, terceirizada aí no mundo, através da Dynamis. A Dynamis representa a conjugação da contradição fazendo a multiplicidade das coisas. Essa dialética dinamiza o fluxo contingente da moderação como atividade consensual de um meio suposto que corresponde ao Princípio de Semelahnça.
Para Empédocles, a multiplicidade resulta do por-Se aí fora dO UM, mediante o poder hermenêutico do quatro elementar: fogo, água, ar e terra. Para ele O UM das coisas é o poder humoral do quatro elementar. É verdade que o sistema empedocleano não dispensou o governo dinâmico da forçosidade na vida, admitindo a subordinação do quatro, ou força, pela conjugação da oponência entre amor e ódio. Nesse sistema, a forçosidade dinâmica é traduzida pelo quatro pluri-potente que expressa o meio.
Oponência ou harmonia é o outro nome do meio.
O hipocratismo se espelhou no cardinalato organizacional do macrocosmo para entender o microcosmo humano, organismo coordenado por quatro humores, sob presidência do regime de vida.
Com Hahnemann, o organismo vivo é função da Força Vital, também havida por Energia Vital. Ele confirma a concepção hipocrática de organismo humoral, fluídico, em permanente transformismo e ordenado pelo regime de vida. Para auxiliar e mediar o regime na promoção da saúde e no tratamento das representações de doença, Hahnemann acolheu a violência intervencionista e pouco racional da terapêutica medicamentosa e a fundamentou em base ao Princípio de Semelhança, que legisla sobre a conjugação de influências. Esse fundamento do comportamento da Natureza, em uma visão recortada, determina que a interação entre influências semelhantes resulte na destruição da mais fraca pela mais forte e que a interação entre influências diferentes determina repressão da mais fraca pela mais forte. Em um observação mais atenta e integral, constata-se que o Princípio de Semelhança determina que a interação entre a homeo-influência, artificial e mais forte, com a mais fraca semelhança da Natureza orgânica resulte em promoção da saúde singular.
No século dezoito, crítica era a luta com que grupos sociais disputavam o primado dos governos, na esteira com que se transformava a consciência da liberdade e da dignidade da vida humana. De um lado, esse positivo ingrediente vitalista acordava a reflexão para evoluir a concepção de direitos humanos. De outro lado, grande era a insatisfação de Hahnemann com os procedimentos e resultados terapêuticos que, demasiadamente distantes da moderação natural, primavam-se pela conjectura e pelo arbítrio intervencionista, com irracional sacrifício de vidas e de saúde. Ao adotar o Princípio de Semelhança para governo da terapêutica medicamentosa, o sistema médico homeopático acabou por encontrar naturais e necessários desdobramentos deste princípio, como o da simplificação, o da economia e o da suavidade, com consolidação da perspectiva dinâmica de valorização da vida.
Por volta do VI século AC, a cultura grega pré-platônica permitia confundir o físico, o médico e o filósofo na busca do um das coisas naturais: um organizacional e legislador, um singularizante das particularidades, um de medida da multiplicidade e um de mediação das tensões discursivas. Para certos naturalistas, a unidade de que as coisas se constituíam ou era a "água", ou o "ar", ou o apeiron, ou os contrários em oponência como elementos dos números, ou as homeomerias, ou o devir, ou os quatro elementos/quatro humores ou, ainda, os átomos. Havia os que afirmavam ilusória a variação. Enquanto uns determinavam e materializavam suas conclusões a respeito do grande e do pequeno, outros reduziam a esquemas metafísicos suas visões essenciais. Alguns viam na moderação universal base temporal da manifestação particular. A busca da unidade, ou da origem, se baseava, como ainda hoje se baseia, ou numa perspectiva fragmentária e aleatória das coisas ou, por outro lado, em uma visão orgânica em que o princípio se reconduz como meio de atualização das realidades, permanecendo como álveo comum de todo transformismo. De certo modo, eram todos filósofos, físicos e médicos. Perspicazes observadores da Natureza, amantes e zelosos da tradição oral, afeiçoados à humanização dos deuses e à divinização dos elementos naturais, os gregos daquela época reconheceram na Phýsis universal e nas phýsies particulares, na Natureza suposta e nas naturezas aparentes e singulares, os fundamentos com que racionalizaram a compreensão de mundo, de homem, do divino e da relação entre o mundo, os homens e o dado. Em base à concepção physiológica das coisas, do homem, da divindade e de suas funções, ou relações, atualizaram a oponência da contradição dialética entre subjetividade e objetividade na vida. Com a racionalidade filosófica e médica que desenvolveram, fizeram arborescer a ciência, até então latente no campo religioso. Nesse processo preservaram os mitos como campo de convivência fraterna entre revelação e razão. O fundamento mítico da Natureza, passagem da obscuridade substancial para o mundo corpóreo da luz, estabelece a aparição como o parto dO UM da suposição. Esse parto pare O UM em par inteligível e gêmeo que, já no "vente materno", briga pela prerrogativa do primado sensorial. Esse princípio mítico da Natureza diz da moderação, apolínea e apolar, catártica, que se reconduz pelo meio, entre extremos oponentes. Enquanto fundamentação religiosa, a moderação corresponde ao comedimento apolíneo, em contraposição ao entusiasmo trágico e dilacerante da loucura dionísica. Enquanto científica, a moderação é apolar representação da neutralidade dos campos de força. A despeito das conquistas técnico-científicas e filosóficas do homem racional, do homem grego de todos os tempos, os mitos permaneceram reconduzindo a memória da tradição intuitiva como depositários de um saber obscuro, inclusivo e universal, não prescritivo de um para outro, mas comum a todos de modo geral, como o saber socrático da ignorância, em contraposição ao saber esclarecido do iluminismo racional. Veio a pretensão do saber racional a se atualizar no positivismo cartesiano, que deseja submeter a prática à teoria, por aversão à dúvida. Entretanto, não há Natureza sem dúvida. Com a repressão da dúvida, não há fluxo de moderação e as diferenças não fazem sentido, excluindo-se singularidades em campos de guerra arbitrários que legitimam a violência simbólica. Os mitos conservam a memória dO UM e a reconduzem à intuição, como resistência substitutiva ao parricídio racional perpetrado pelos contrários que decifram enigmas. Por isso, respiram os mitos como pulmões inclusivos do meio. Pré-platônica, a procura filosófica e médica dO UM corresponde a um mito fundamental de partida da ciência do campo da revelação. De vez que ambas, ciência e religião são revelações do velado um da suposição, a religião corresponde à velha revelação de direita, como direta e geral revelação procedente do "separado de fora" para submeter a razão dos homens, enraizada no comportamento e modo prescritivos. A ciência, por sua vez, corresponde à pródiga e noviça revelação, ávida de modas e de liberdade, procedente da razão humana para submeter a circunstância a que se reduz a Natureza, como revelação de esquerda. Mas, ainda assim, a ciência propende a generalidades, tanto que é inseparável da indústria, que a articula com massas. Imoderadas pela incompreensão do comedimento que as irmana, religião e ciência, velho e novo, tornam-se pares parricidas do um suposto que as pare. Insanamente, se degladiam em busca do primado da sensação. O parricídio, entre tais contrários fraternos que disputam as atenções, desenha o politeísmo religioso e o arbítrio científico, do acaso e da aleatoriedade. Reedita-se o politeísmo, ainda hoje, pela falta de consenso religioso entre os homens, como se houvesse variedade na essência dO UM. Campeiam as arbitrariedades técnico-científicas que se refletem na necessidade de desenvolvimento da Ética da Vida em clima de cuidado com a vida planetária, de consciência global de diretos humanos e de dignidade da vida. Religião secular e ciência, gêmeos fraternos paridos por revelação dO (velado) UM, confundem comportamentos que refletem a identidade que os supõe: ambos desejam a prescrição de seus códigos e mal se toleram, como mal toleram diferenças, enquanto disputam domínios temporários de mundo. Resultam daí variáveis tormentas que atordoam o livre fluxo da vida, como tempestades de sensação que pedem moderação.
Se a moderação representa a saúde, o descomedimento se constitui em representação de doença. Se a moderação representa a comunhão, com suspensão do arbítrio que impõe generalidades fratricidas, a Homeopatia pode ser compreendida como um sistema de medição e de remediação de conflitos fenomenológicos que se caracteriza como métrica do tempo. A Homeopatia auxilia os sistemas orgânicos e dinâmicos, desenvolvendo-lhes as capacidades próprias com que conferem brevidade às sensações, reconhecendo o poder da comunhão em auxiliar universalmente com pouco, como uma semente faz sua árvore, como o poder do fermento para a massa, como a cobertura do amor incorpóreo para a multidão dos males.
A singularidade regente pare a contradição através da semelhança. E a contradição se representa pela diversidade contingente. Ao parto da singularidade corresponde a vida, cuja representação é a saúde. Deste modo, saúde, como saber a ser compreendido e grandeza susceptível de medição, se torna uma força de campo que se manifesta pelo organismo, totalizando o um que o ordena. Por saúde o um se totaliza, daí que saúde corresponde à Dynamis que torna aí a Phýsis singular, como um gênero capaz de Se especificar membranaceamente em torno de si. Através da saúde, ou Dynamis, a singularidade se pare na contradição que a representa e a terceiriza na totalidade do corpo. Esse diálogo verbaliza o organismo, quer dizer, a conjugação dinâmica realiza o corpo como uma conversa, tornando-o reflexo temporário (ou espelhamento) da singularidade suposta.
A tradução do sistema empedocleano/hipocrático ao sistema homeopático hahnemanniano, através da redução da Dynamis à Energia Vital, permite distinguir o domínio próprio da Medicina Homeopática: o transformismo que varia a singularidade suposta em sua aparências sensoriais. Disto resulta que a saúde, para a Homeopatia, é orgânica e singular e que a representação de doença corresponde à sensação de parte. Ora, a sensação de parte traduz o esquecimento da inteireza, do um que se totaliza em todo orgânico. Partido, fragmentado, despossuído da sensação de um, o organismo necessita de uma unidade semelhante que o meça e remedeie: que o auxilie na recuperação da sensação de um. É essa situação temporária que justifica a mediação homeopática, cujo trabalho desobstaculiza a saúde singular e facilita a realização da individualidade no mundo.
Através de cuidadosas experimentações na saúde de substâncias ultradiluídas, Hahenmann concluiu que a propriedade medicinal de qualquer influência é função da disponibilização do psiquismo humano. Ele realizou inúmeras experiências de efeitos medicinais, nele próprio e em alguns voluntários, certificando-se de que a auto-experimentação otimiza o processo que permite o reconhecimento da capacidade de alterar a saúde que têm as influências. Verificando que suas experiências melhor se desenvolviam com doses infinitesimais, chamou-as de experimentos puros, para exprimir que seus resultados traduziam efeitos dinâmicos, puros, ou quase imateriais da substância. Essas experiências simples na saúde de voluntários humanos permanecem, até os dias de hoje, restritas a ambientes homeopáticos. Visões médicas que sofisticam e materializam as intervenções ainda não se despertaram para elas. As experiências hahnemannianas são chamadas simples porque reduzem a uma mesma evocação infinitesimal o conjunto de efeitos puros na saúde dos provadores. Elas se passaram com a convicção de que o modo como uma influência modifica a saúde permanece como propriedade distintiva da substância em questão, permitindo que ela seja usada, com segurança e certeza suficiente, para tratamento de casos de doenças naturais semelhantes.
O estudo do dinamismo do contágio permitiu a compreensão do acolhimento da distância, quando a materialidade da substância se reduz à pequenez das ultradiluições. Com isso, o caduceu homeopático percebeu que a dose suave e infinitesimal, dinamizada, ganha potência medicinal para alterar o bem-estar da vida animal. Desse modo, no são, a potência ultradiluída se confunde com o psiquismo habitual do provador, que é disponibilizado para reconhecimento da medicação e, no enfermo, seu psiquismo é usado para reconhecimento da influência infinitesimal semelhante. Se a mediação do conflito natural de saúde corresponde ao desimpedimento medicinal da moderação, com suspensão do juízo, a prova medicinal, semelhante, promove saúde de quem disponibiliza o psiquismo para medição do sofrimento humano. Daí que "alterações autopatogenésicas" e "sensação de doença natural" se representam e se reconhecem por memória experimental, em trabalho de assimilação. A comunhão promove saúde do organismo reconhecido, assim como promove saúde do psiquismo que integra e se representa no reconhecimento suficiente. Tal a assimilação do método homeopático de mediar conflitos do discurso orgânico. Fica claro, então, já que a medição e remediação homeopáticas são funções do psiquismo humano, que o comportamento coordena a fenomenologia. É o mesmo que afirmar que os modos mudam o corpo por comunhão e que a materialização dos hábitos em corpos medicamentosos, para interferência na saúde, obstaculiza o livre fluxo da vida. Por isso, se pode afirmar que é apenas aparente o distanciamento do hipocratismo levado a cabo pelo desenvolvimento do vitalismo hahnemanniano, em sua escrupulosa dedicação à terapêutica com substâncias corpóreas. Tanto para o hipocratismo, quanto para a Homeopatia, o regime de vida é o campo de excelência para a manifestação do Princípio de Semelhança.
3- Operacionalização do Curso Básico de Homeopatia.
O projeto tem a configuração de um curso programado para se desenvolver em um ano, com carga horária de 90 horas – aula distribuída em atividades teóricas e práticas. As aulas serão praticadas em módulos mensais, às sextas-feiras de 19:00 às 22 horas e aos sábados de 08:00 ás 12:00 horas, ao longo de onze módulos em dez meses, com exceção de janeiro e de julho. Dois módulos serão desenvolvidos em agosto. Ao final do curso, como condição para se obter o certificado de conclusão, o interessado entregará uma monografia, que será considerada juntamente com uma participação mínima de 75% das atividades. As monografias serão apresentadas em um módulo específico para este fim no mês de Dezembro. O curso deverá proporcionar a quem o freqüentar consciência crítica dos fundamentos hahnemannianos da Homeopatia dispostos na sexta edição do Organon da Arte de Curar.
As atividades serão desenvolvidas em dependências que o IMH indicar.
Módulo I - História da Homeopatia. Energia Vital, Saúde e Doença segundo o vitalismo hahnemanniano. Contágio.
Módulo II – Fundamentos da Homeopatia. Patogenesia e Autopatogenesia.
Módulo III - Comportamento catártico da saúde. Cura e paliação. Substituibilidade miasmática. Prognóstico.
Módulo IV - Disponibilização do psiquismo em autopatogenesias. Comportamento Pharmakós. Anagnórisis. Mitos de Édipo e de Narciso.
Módulos V - Mito de Prometeu e de Quirão relacionados com a Homeopatia. Ética da Vida.
Módulos VI a X –Prática homeopática e reflexões vitalistas. Relação Médico-paciente.
Módulo XI - Apresentação de monografias de conclusão.
Belo Horizonte, Antônio Carlos Gonçalves da Cruz.
Médico pela Faculdade de Medicina da UFMG. Homeopata pelo CFM- CRM/MG.
Notório Saber em Homeopatia pelo IMH.
Coordenador do Curso.